Chega de Professor Coitadinho!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008 |

Em novembro farei 26 anos de profissão. Em dezembro, 25 de casada. São duas das minhas paixões. Ainda tenho mais duas: meus filhos. Mas, diferentemente do casamento, a profissão muitas vezes me deixa constrangida...
Ouvir observações do tipo: _ Nossa! Professora! De crianças pequenas! Isso exige tanta dedicação!
Ler notícias sensacionalistas, como estas, valorizando sacrifícios e abnegações de verdadeiros heróis, alimentam um romantismo extremamente nocivo a profissão e a educação do país! E, ao contrário, as pessoas, em geral, acham isso bonito...
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Valorizar o empenho em levar alunos para a escola, valorizar professores que atravessam quilômetros á cavalo, de balsa, á pé, para chegar ao trabalho é desvalorizar a educação. Professores precisam de condições dignas para aprimoramento de seu trabalho e não da demagogia da admiração alheia.
Isso não melhora em nada a qualidade do ensino. Pelo contrário. Um professor que trabalha nessas condições está fadado ao desgaste pessoal, ao cansaço. Daqui a algum tempo, quando este pedir sua aposentadoria, ainda ouvirá críticas...
Não estou de forma alguma desmerecendo estas iniciativas. Mas este enfoque serve apenas para disfarçar as reais condições do ensino no Brasil. Precisamos derrubar estes estigmas. Estes professores são símbolos, sim: símbolos da vergonha, do descaso de governantes em relação a Educação de seu povo.
Minha querida sogra dizia: Na sombra da galinha, o papagaio bebe água...
Por trás desta abnegação, do amor que temos a profissão e a nossos alunos, a incompetência e a corrupção, o mau uso das verbas públicas encontram disfarces.
Nosso país é gigantesco. As dificuldades são enormes, sim. Mas também temos altíssimos impostos. Transporte escolar deveria ser prioridade dos municípios.
Garantir condições de acesso não é função do professor. É do poder público.

15 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo artigo, disse tudo. Aqui na minha cidade os candidatos a prefeito prometeram valorizar melhor os professores e a educação, como sempre acontece em campanhas eleitorais, mas isso que eles alardeiam por aí, na verdade é uma OBRIGAÇÃO, nada mais que isso.

Jenny Horta disse...

Amigo Wendell, que bom que concorda! Eu mesma já me privei, muitas vezes, para ajudar meus alunos, num envolvimento além do profissional. E a experiência me mostrou que por outro lado, muitos enganam e não trabalham. São dois extremos terríveis que só uma formação consciente da cidadania pode resolver.

esteblogminharua disse...

Oi, Jenny, parabens pelo texto. Gostaria de convidá-la a colaborar no meu concurso de blogs. Contate-me em PVT.
Franz

Conceição Rosa disse...

Oi Jenny
Também concordo. Este tema já esteve em pauta uma outra vez, com a mesma louvação da mídia, como se professores fossem os profissionais do sacerdócio...
Sábia, sua sogra!

Jenny Horta disse...

Conceição e Franz! Sem dúvida aprendi muito com minha sogra! Refletir sobre nosso posicionamento profissional é o primeiro passo para a mudança. Há muitos outros aspectos envolvidos, sem dúvida, mas é preciso começar...Obrigada pela visita!

Adinalzir disse...

Oi, Jenny. Da forma como a mídia coloca esses professores como uns heróis e coitadinhos, em pouco tempo não sobrarão nada deles. Isso mostra o quanto precisamos refletir sobre o papel profissional. Meus parabéns pelo excelente artigo! Um grande abraço,
Prof. Adinalzir Pereira

Anônimo disse...

É isso mesmo, Jenny!
Ser Professor não significa abrir mão de tudo por amor a camisa. É uma Profissão como outra quaquer. Temos que começar ( e começar por nós mesmos) a ver nossa Profissão como digna, a qual tem que ter todas as garantias e recursos para que possamos trabalhar bem. Parabéns, mais uma vez você acertou em cheio! Beijos, Andréa Poça

Leonor Cordeiro disse...

Jenny, meu computador continua uma calamidade. Agora não consigo mais mandar nenhum e-mail. Não consigo salvar as fotos e os textos em CD. Estou num mato sem cachorro.
Gostaria muito que o grupo soubesse que a minha ausência se deve a esses problemas. Estou ficando incomunicável...snif..snif.. Coloca um bilhetinho para nossa turma? Diga que estou morrendo de saudades, com muita dor de cotovelo por causa dessa situação.
Mil beijinhos!!!

Sérgio Lima disse...

Opa Jenny

CLAP CLAP CLAP só me resta dizer:

Onde é que posso asinar em baixo?

Muito bom! Não tenho mais nada a acrescentar!

Sérgio Lima disse...

ops, troque asinar por assinar :-)

Tati Martins disse...

Preciso dizer mais alguma coisa? Acho que não. Basta assinar embaixo.
Beijinhos!

Cybele Meyer disse...

Olá Jenny, sábias palavras.

O hábito de se valorizar o sacrifício é ainda resquício das pregações da igreja que incutia no povo que todo sacrifício enfrentado seria recompensado com a ida ao Paraíso! Muito cômoda esta situação porque além de serem poupados do trabalho árduo, caso isso não acontecesse, não teriam nem como vir cobrar indenização por terem sido induzidos a erro. =(
Já está mais do que na hora dessa “falsa” valorização do sacrifício acabar. A partir do momento que as pessoas optarem por condições dignas para exercer seu trabalho, e estou incluindo o professor, as mudanças começarão a acontecer. Ao invés de se valorizar o sacrifício como o caminho de ida ao Paraíso vamos incentivar que “a voz do povo é a voz de Deus” e exigir mudanças.

beijinhos

nilso disse...

O pc e a criança
Chega de Professor Coitadinho
Penso que os professores precisam de dignidade para poderem aprimorar seu trabalho e não de demogogia. O poder público deve garantir as condições de acesso a escola.

Sylvana disse...

Gostei demais de seu texto. Estamos fartos de demagogia. Só queremos ser tratados como "professores" e não como seres que despertam sentimentos de piedade, não é mesmo?! Um abraço!!!

Marisete Barbosa Martineli disse...

Parebéns pelo seu texto. O professor não pode ser visto como coitadinho, é uma profissão como tantas outras, só precisamos de um pouco mais de dignidade para aperfeiçoar nosso trabalho.